VIVER
Acordou amedrontada, culpa dos pesadelos que tivera durante a noite.
Pouco dormiu, e os poucos momentos,em que o sono a venceu, foram povoados de acontecimentos medonhos.
Sabia muito bem porquê.
Os ultimos acontecimentos martirizavam-na. Instalaram-se no seu subconsciente, e desencadearam aquele desfile de pesadelos.
Levantou-se, vestiu o roupão, e meio cambaleante, dirigiu-se á cozinha, com o propósito de tomar alguma coisa que lhe fizesse desaparecer a maldita dor de cabeça.
Voltou para o quarto, aconchegou-se entre os lençois e adormeceu.
Quando voltou a acordar, sentia-se melhor.
Porém, a vontade de abrir os olhos, e retornar á vida, era nula.
Deixou-se ficar assim, quietinha, de olhos fechados, como se fosse possível nunca mais voltar a abri-los.
Porque se sentia tão infeliz? O que não tinha remédio, remediado estava.
As coisas são como são, há que aceitar, esquecer e seguir em frente.
Então e ela nao sabia isso?
Claro que sabia.
Uma das suas características positivas era exactamente a capacidade de aceitar.
Por vezes, demorava a compreender, mas uma vez a coisa compreendida, era aceite dentro de si, e pronto, ponto final parágrafo.
Bingo! Fez-se luz! Pois é, compreender, era o segredo. Ela não tinha podido compreender, logo não conseguia aceitar, e dar paz á sua alma.
Deu um salto da cama, enquanto pensava: menina, cuida-te, porque se não o fizeres, ninguem o fará por ti. Ao diabo os problemas e as confusões, chega de tortura!
Rumou ao chuveiro, arrancou ao corpo, o pijama, o mais depressa que conseguiu, e deixou que a água a escaldar lhe lavasse o corpo e a alma.
Saiu de casa sem o peso habitual, disposta a viver.