Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!
Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...
Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...
Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...
Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"
Saudade
Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
PABLO NERUDA
Fechei os olhos, prendi-me todo
No mar de lodo que tu
Fazes de quem te quer bem
Fiz tais figuras e fui tão louco
Que a pouco e pouco, por fim,
Cheguei a ter dó de mim
Gostar de quem nos faz mal
Magoa cá dentro
Mas na vida, o principal
`E mesmo gostar d'alguém
Foi sempre assim, podes crer,
Também te vai suceder
Não é segredo,
Tudo se paga,
Ou tarde ou cedo
NOBREGA E SOUSA/JERONIMO BRAGANCA
As vezes doi-me o peito
Do lado do coracao
Por causa deste jeito
De nao ouvir a razao
E vou lutando comigo
Sem ser capaz de vencer
Escondida em meu abrigo
Torturando este meu ser
As vezes odeio o mundo
E a sua perversidade
E outras ate confundo
Sacanagem com bondade
E fecho-me dentro de mim
E deixo de ver o ceu
Ate que um dia , por fim
Volto outra vez a ser eu.
Hoje nao venhas bater-me `a porta
Nao venhas interrogar o meu olhar
Tenho a alma rastejando quase morta
Buscando algo que a ajude a levantar
Hoje nao venhas falar de amor
Ha chagas abertas no meu coracao
Nao pises, distraido, sobre a dor
Que doi e se contorse em tua mao
Hoje nao, amor da minha vida
Hoje nao sou tua , nem de ninguem
Sou apenas uma sombra perdida
Esperando o milagre que nao vem
Abro os bracos ao universo
Pedindo sua ajuda e proteccao
Que a dor expressa neste verso
Possa enfim, chamar sua atencao
Nao sei se hei-de viver ou morrer
Igual peso nos pratos da balanca
Vivendo, morro por te nao ter
Morrendo, vivo na tua lembranca
Hoje, nao toques a campainha
Quero viajar ao fundo de mim
Penetrar nesta dor apenas minha
Perpetua-la,........... ou de uma vez por todas, .......dar-lhe um fim.
MDM
- As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho…
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!
- Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros… no junquilho…
Esta árvore, meu pai, possui minha’alma!…
- Disse - e ajoelhou-se, numa rogativa:
“Não mate a árvore, pai, para que eu viva!”
E quando a árvore, olhando a pátria serra,
Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!
A Árvore da Serra, Augusto dos Anjos