Chamam-lhe princesa do Alentejo, e teem toda a razao.Quem, depois de ver , atentamente, este video, podera contestar?!
Porem, por muito que o video mostre, nao mostra tudo. `E preciso caminhar por aquelas ruas empedradas, respirar aquele ar, falar com aquelas gentes, para se sentir o espirito da cidade.
Sao seculos de historia que nos sorriem em cada recanto.
Sao ecos vindos do passado, em cada badalada dos sinos das suas multiplas igrejas.
Sinto-me previligiada por ter nascido e crescido naquela cidade.
O edificio do liceu , onde estudei, actualmente universidade, `e uma obra de arte.
O templo de Diana, a que tantas vezes subi para me sentar nas pedras caidas, naquela altura ainda se podia subir, conta-nos muito da historia da regiao.
Saudade de descer a Travessa das Peras, em grupo com a malta do liceu, batendo com os tacoes nas pedras da calcada, fazendo um barulho ensurdecedor.
Saudade de passarmos em frente ao quartel da GNR, e gritarmos em coro: GRANDE NINHADA de RATOS, e furgirmos quanto podiamos.
Existia, na altura, um grupo de mercearias com uns letreiros- SPAR. Nos passavamos e gritavamos: SALAZAR PEDE AUXILIO AOS RUSSOS, e fugiamos, alheios ao perigo que essa atitude poderia representar para nos e nossas familias. Nesse tempo qualquer pessoa podia ser presa, torturada, acusada de comunista, mesmo que o nao fosse. Bastava que fosse mais inteligente, ou que algum pide quisesse acertar contas.
Saudade de me baldar as aulas, e ir para a biblioteca do parque infantil, do jardim publico, onde me deliciava com os livros da Anita e os dos Cinco, iniciando assim um vicio que ainda hoje persiste....a leitura.
Saudade dos passeios no jardim, saudade das primeiras paixonetas, saudade de nos juntarmos em casa de alguem, para ouvir `as escondidas, discos proibidos.
Saudade da minha cidade e saudade daqueles tempos.
Quando, finalmente,apos uma espera de nove meses, vemos sair das nossas entranhas, um novo ser, `e como se, de repente, o mundo se aconchegasse nos nossos bracos.
Quando a fatalidade nos rouba esse ser, `e como se o mundo, subitamente, caisse em cima da nossa cabeca, esmagando-nos por completo.